sexta-feira, 8 de julho de 2011

O sorriso alegre e inocente.

    Sofria de amor e me entupia da dor de não poder reviver lembranças. Me consumia disto depois que deixamos de lado nosso romance. O eco de minhas frases pesarosas surgiam nos intervalos de meus pensamentos, as meias brancas esquentavam meus pés gelados. A neblina lá fora suava o vidro da janela da sala, defronte ao sofá afofado e ocre, no qual eu estava "jogada". Preguiça de inverno, numa tarde de céu branco. O apartamento estava frio, e este frio fazia bolinhas em minha pele e doía minha coluna dorsal; as recordações fizeram com que não preocupasse-me com ele; eram recordações filtradas, lembranças de minha família, com temas diferentes, em sentimentos diferentes. Elas me acalentavam. Esquentavam-me de forma superior comparado a um cobertor. De repente, eu estava sentada numa pedra no meio de um rio com minha melhor amiga, meus pés eram pequenos, devia ter uns sete anos, mas a alegria de batê-los freneticamente na água preenchiam em meu rosto um sorriso inocente de alegria. Eu não queria estar afogada no sofá doendo-me de lembranças que queriam ser revividas, queria estar lá, com os pezinhos no rio e o sorriso alegre e inocente pintado na face, só queria revivê-lo. Uma lágrima de saudade contornou o meu rosto. Próxima recordação. Eu, adolescente, brigando com a minha mãe, ela me dizia em tom elevado para eu parar de sair com o garoto gótico e rebelde, a maquiagem pesada escorria em meu rosto retorcido que relutava em berrar mais alto do que ela, que chorava de desespero. Adoraria voltar e pedir desculpas por não acreditar que aquele garoto faria um grande buraco em mim, que ele seria minha decepção e depressão um dia. O rosto dele apareceu subitamente. Tirou-me do transe. Esquentei o chá e fui tomá-lo escorada no parapeito da janela, a brisa chicoteou-me no rosto, o choque térmico passou ao choque emocional. Sun estava sentado em um banco sob minha janela, ao seu lado, meu ursinho que lhe devolvi quando terminamos, seu dedo fazia movimentos circulares nos botões do celular, pude vê-lo arfando de incerteza, talvez tomando coragem para ligar-me. Talvez a neblina estivera escondendo minha janela, e ele não pôde ver o sorriso alegre e inocente que pintou-se em minha face.


Este texto faz parte da tag "De Quinze em quinze" do blog depoisdosquinze.com 

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